10 de julho de 2010

Livros de graça e Zélia Duncan no açougue

Por Seu Pedro
seupedro2@yahoo.com.br


Noticiazinha de se lamentar essa do fechamento da Livraria Jinkings. Pior mesmo só a morte do premiado Saramago. Da memória surgem lembranças sobre livros e escritores pra compensar.

Perambulando pelos Andes, no início do milênio, vi camelôs vendendo livros em bancas de rua. Isto foi em La Paz e Cochabamba. Baratinhos, comprei alguns. Nessa época, Evo Morales reunia cocaleros num congresso para se opor à erradicação das milenares plantações de coca.

Sabe aquele famoso diário da campanha do Che na Bolívia? Pois é, ele não é o único.Comprei outro escrito por um dos homens que furou o cerco através da Argentina e conseguiu chegar a Cuba.

Anos depois, vagando pela capital daquele país de muitos leitores e grandes escritores, entrei na deslumbrante livraria El Ateneo, aquela da Florida próximo a Corrientes. Além de livros vi muitos CDs e DVDs. Fiquei lá o dia todo. Ficaria mais. No restaurante tive que enfrentar fila. Parecia que muitas pessoas estavam lá apenas pela boa comida da livraria. E que outros foram para ler confortavelmente no restaurante. Foi assim que aprendi que os maiorais da literatura deles são Borges e Cortazar. Trouxe-os comigo.

Não cheguei a visitar a outra El Ateneo, aquela gigante instalada no antigo teatro. Mas atravessei o Rio de la Plata e fui até Montevidéu onde, mais uma vez, encontrei livros baratos. Comprei alguns, ainda não lidos até hoje.

Recentemente, estando em Brasília, um casal de amigos levou-me para assistir um show da Zélia Duncan... num açougue. Isso mesmo, num açougue. Na verdade é um açougue mas também é uma livraria. Ou seria uma biblioteca? É livraria mas também é um espaço cultural.

Explico melhor. No açougue os livros ficam expostos dia e noite em prateleiras do lado de fora do estabelecimento comercial. E qualquer um que passa pode levá-los pra casa, ler e depois, se for mesmo amante dos livros, devolve-los. Quanto paga? Nada, é tudo de graça.

Dezenas dessas pequenas livrarias também estão espalhadas nas paradas de ônibus do bairro. Diferentemente do que se poderia pensar o acervo não diminui, ele aumenta. Satisfeitos com a gratuidade os leitores voltam, devolvem os livros e doam outros.

Fui apresentado ao dono, que contou como tudo começou. Empolgado, fiz até foto com ele. Logo lembrei de algumas dezenas de livros que tenho em casa e voltei com vontade de encontrar uns malucos pra discutir um projeto semelhante aqui em Belém.

Bem, pra entender melhor essa história de açougue, livro de graça e Zélia Duncan, talvez o melhor é dar uma olhada no site do Açougue Cultural T-Bone e mesmo à distância se deliciar com o que rola por lá: http://www.t-bone.org.br/

Um comentário:

Anônimo disse...

Dom Pedro, na Braz de Aguiar , mais precisamente na lotérica da caixa economica bem do lado do clube do remo existe um projeto semelhante, no entanto existem cartazes denunciando a quantidade de livros que foram postos para empréstimo e não foram devolvidos.

Vale a pena dar um ''gás'' pra esse projeto, derrepente é isso q ele precisa, conte com uma dúzia de livros do meu acervo!


quanod podemos ir lá?